sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Comunicação no Congresso de Ciberjornalismo

Tal como estava previsto, apresentámos os primeiros resultados deste estudo no I Congresso Internacional de Ciberjornalismo, que decorreu no Porto, promovido pelo Observatório do Ciberjornalismo. Aqui ficam as ideias centrais da comunicação e o agradecimento a quem preencheu o inquérito.


Meios de Comunicação Social como mediadores

- Os meios de comunicação são vistos como a instituição central da actual configuração do sistema social, ou seja, como mediadores entre os cidadãos e a realidade social.

- Poder que os meios de comunicação social têm como agentes de produção das representações e práticas que definem o género (van Zoonen, 1994).

- “Os meios de comunicação de massa são, sem dúvida, um dos lugares sociais e políticos de construção de identidades. Por eles perpassam e constroem-se definições e ideologias de diferentes grupos etários, étnicos, de classe, de cultura e de sexo” (Silverinha, 2004: 9).

A palavra foi negada durante séculos às mulheres

– Vários estudos a nível nacional e internacional indicam que os meios de comunicação social dão menos espaço às vozes femininas do que às masculinas.

– Quando as mulheres aparecem, são representadas de forma estereotipada e pouco representativa dos papéis que desempenham na sociedade.

– As mulheres são muitas vezes representadas como um grupo homogéneo (Cabecinhas, 2007).

– As notícias e programas da actualidade reflectem uma "hierarquia de valores" em que os temas que dizem respeito às mulheres têm uma prioridade baixa, quando são incluídos (Gallagher, 2004: 87).

– As mulheres continuam a ser “simbolicamente aniquiladas” (Tuchman, 2004).

Foto DR

Novas possibilidades de expressão

– As novas tecnologias são uma mais-valia para grupos que tradicionalmente sofrem "dominação simbólica" (Amâncio & Oliveira, 2006).

– A UNESCO considera que o digital é uma ferramenta crucial para o "empoderamento" das mulheres.


– As ferramentas de auto-edição, como os blogues, podem ser uma alternativa à falta de representação mediática.

– Os blogues proporcionam às mulheres um espaço de expressão que, historicamente, nem sempre esteve disponível.

Instrumentos para a participação


– Os novos instrumentos proporcionados pela rede global pareciam revelar possibilidades infinitas para a participação cívica.


– "As novas tecnologias, e em especial a Internet, abrem novas perspectivas à democracia, mas não são o garante único e exclusivo de uma democracia participada” (Oliveira, Cardoso & Barros 2004: 81).

- A questão da participação é particularmente relevante a nível local e regional, uma vez que estão em causa matérias nas quais há maior possibilidade de intervenção, mesmo no âmbito do processo de decisão política.

Base do estudo



- Estudo sobre o “Avenida Central

  • Melhor blogue “Cidade/Região” em 2007.
  • Petição pelo Regresso do Eléctrico.
  • “Avenidas do Minho” (91 blogues).

- Metodologia
  • Recolha dos contactos disponibilizados online pelos autores dos 546 comentários que foram feitos em 53 posts sobre o regresso do eléctrico e nos 91 blogues apresentados nas “Avenidas do Minho” (Outubro de 2008).
  • Envio de um questionário para 153 emails (comentadores/bloggers).

Resultados

- Das 88 respostas válidas, relativamente ao sexo declarado dos respondentes, 93% são homens e 7% são mulheres.

- Em relação à idade, 45,9% situam-se na faixa etária dos 26 aos 40 anos, 37,6% entre os 18 e os 25 anos e 16,5% dos 40 aos 65 anos.


- A maior parte dos inquiridos tem licenciatura (40,7%) ou frequenta o ensino superior (30,2%). Há 7% de doutorados e 2,3% que têm o ensino básico.

Presença na blogosfera

- Número de amigos que possuem blogues

A maioria dos indivíduos que responderam ao questionário declara ter “poucos amigos” que possuem blogues (81,6%).

Os inquiridos referem conhecer maioritariamente “individuais” (82,1%), da autoria de “homens” (56,9%) e “mistos” (36,9%). A mulheres referem conhecer maioritariamente blogues “mistos” (66,7%).

- Frequência de visualização de blogues

43,7% dos inquiridos visualizam blogues “várias vezes por dia”.

As mulheres mostram que são usuárias menos frequentes, pois 50% das inquiridas referem visualizar blogues “mais de uma vez por semana” e 33,3% visitam “várias vezes ao dia”.

A média dos homens é 1,88 (dp=0,87), enquanto a das mulheres é 2,50 (dp=1,23) (numa escala de 1 a 6, em que 1 é “várias vezes por dia” e 6 “raramente”).

- Frequência de actualização dos blogues

54% dos inquiridos afirmam que actualizam o/os blogue/s “mais de uma vez por semana”. Uma pessoa refere que só actualiza “raramente”.

Nenhuma das inquiridas refere que actualiza diariamente o blogue. Ou seja, 66,7% das mulheres actualizam “mais de uma vez por semana”, 16,7% “menos de uma vez por semana”.

A média dos homens é de 2,81 (dp=1,01) e das mulheres é de 3,83 (dp=1,33) (numa escala de 1 a 6, em que 1 é “várias vezes por dia” e 6 “raramente”).

Motivações e interesses

- O que é que motivou a entrada na blogosfera?

A “intervenção” (71%), “debate” (41,4%), “curiosidade” (23%), “auto-realização” (21,8%).

Há ainda quem refira que utiliza a blogosfera para “divulgação de trabalhos”, “exteriorização de sentimentos” ou “dar a conhecer o [seu] mundo”.


- Temas de interesse

Sociedade” (77%), “política” (75,9%) e “cultura” (67,8%).

A ordem de escolha é semelhante para homens e mulheres.

"Cultura” surge em primeiro lugar nas escolhas do sexo feminino, em simultâneo com a “sociedade”, e em quarto das opções do sexo masculino.

As mulheres mostram maior interesse pela temática de “desporto” (33,3%) do que os homens (23,8%).

Participação

- Participação em discussões lançadas nos blogues

52,9% dos inquiridos dizem que participam “várias vezes”.


- Porque é que participa na blogosfera?

“Intervenção social” (23,9%), “apresentação de pontos de vista” (18,1%), “debate” (14,7%), “exercício de cidadania” (5,7%).

Os homens apresentam respostas mais centradas na questão da cidadania, da intervenção, do debate e da troca de conhecimentos. As mulheres que responderam ao questionário apenas salientam a apresentação de pontos de vista.

Considerações finais

- Apesar das potencialidades que a blogosfera apresenta para a afirmação das vozes femininas, uma vez que este é um mecanismo de auto-edição, ainda se verifica um baixo nível de participação das mulheres a nível regional.

- O ponto de partida para esta análise é um blogue de um homem, com um forte pendor de intervenção regional, o que poderá deixar de fora do blogroll do ‘Avenida Central’ os blogues com outros centros de interesse, onde eventualmente a presença feminina seja mais numerosa

Questões


– Será que as mulheres estão afastadas da blogosfera ou alguns blogues assinados por homens conseguem maior destaque, mesmo nos meios de comunicação tradicionais, criando a ideia de que elas são menos activas no ciberespaço?

– Será que os blogues de mulheres se concentram, de facto, em determinadas áreas tradicionalmente conotadas com a esfera feminina ou são os espaços dedicados a outras temáticas que não são (re)conhecidos?

– Será correcto falar de blogues femininos e masculinos? Porque é que muitas escondem a sua ‘verdadeira identidade’ sob a capa de nicknames?

– Será que a blogosfera está a funcionar como um mecanismo de reprodução dos estereótipos que foram sedimentados durante séculos? Ou poderemos encarar os blogues como ferramentas que estão a operar uma mudança social?